quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Boca da noite



A boca da noite me beija,

num entremeio de suavidade e força,

me suga,

com  sua saliva composta de tempo e fúria

sabendo muito bem como usá-la.


A boca da noite é ácida,

nela há os devaneios marginais,

os desejos proibidos,

os segredos escondidos,

nos caminhos dos vira-latas que uivam no cio.


Se a boca da noite me toma,

num coquetel de desdenho e devassidão,

danço, rebolo, e me faço cálice:

graal sagrado e pagão

 cheinho de veneno e sabor,

e melanina e caos.


Brinco na boca da noite

recriando céus nada cristãos:

paraíso hedonista,

recanto cínico,

delírio comunista

solidão necessária

poesia,

utopia.


Afinal, não há dúvida de que

quem possua as poetas

não são outros, senão

os braços, o membro e a boca

gulosa e imensa da noite.



 


Condão

Quando escrevo, não imponho limites: Me derramo, me desvelo, A poesia então num ato de cerzir Emenda minha existência com a dela. ...