
"Há pensamentos que são orações.
Há momentos nos quais seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos"
(Victor Hugo)
Em tardes de tempestade, onde os ventos despenteiam as ávores, e brutalmente, atiçam o movimentar pueril, fazendo do céu nublado o protagonista que chora, que de prantos longos e intensos molha a terra, as casas, as mentes, os eus. Aqui na caneca, meu chá quente de gengibre e limão buscam encontrar minha dolorida e rubra garganta... um gole, doi! No segundo... mais dor! E o terceiro, não tão diferente dos outros, é como se sangrasse o canal por onde perpassa minha voz. Mas que voz? Nesta tarde não tenho nada à dizer, senão o silêncio portador do auto-conhecimento. O silêncio que reconhece as feridas, que dialoga com os demônios, que reflete sobre a insanidade dos meus atos. A chuva cai... e as lágrimas desse sujeito que aqui vos fala, não caem nunca! Nem em dias nublados, nem ao sol... no escuro talvez, mas hoje, hoje não!
Um chá quente, um livro de Goethe, uma rede e um edredom: esqueci-me da dor, e lembrei-me das dores. As dores que os demônios sussurram, que os eus escondem, que o mundo exterior tenta perscrutar mas não alcança. É nesse duelo, dor e dores, chá e frio, chuva e sol, que faço arder minha alma, que provoco meu corpo, que deixo de ser mulher, para me tornar universal: ser humano, assim o sou nesta tarde chuvosa...