sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Prece

Com a cabeça inclinada ao chão,
os pés fincados na terra,
os olhos cerrados
e a mente em constante devoção
derramo-me na mesma intensidade com que essas gotas tocam o chão.
Tempo de seca foi-se,
e entoando o cântico de agradecimento de minhas mãos
reconheço a fragilidade do ser diante a força
da mãe que nos criou...
Clamo a chama,
clamo a beleza,
clamo a Terra,
clamo ao sagrado que reside em mim...
Caia pesada chuva,
caia gota serena,
caia minha humanidade
e renasça eu sempre em mim!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

OFERTA

Natureza assim, desnuda
despida
etérea.
Força sublime,
força forte,
pura e libidinosa.
À sua descoberta,
pronta às suas ramas regar
firo-me, fertilizo-me
e em desejosa nudez
meu corpo a ti pretendo ofertar...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Vida

O que chega à mim senão luz
o que me atrai senão cores
o que me mata senão a morte...
Aquilo que me intriga,
aquilo que me devora,
aquilo que me amedronta,
aquilo que não sei o que é...
Deixar ir e voltar,
gozando do movimento, do calor
pois a vida é mesmo assim,
não se pode ficar parado
e nem mesmo correr demais!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Apena Penas

Desafiamos a física,
a crença,
os dogmas,
os 'nãos'...
Aceitando em troca dos prazeres
os olhares,
os mal juízos,
as invejas...
Pouco importa agora,
temo-nos nesse fio de instante que é eterno.
Pouco importa se atos atraem juízos
e dessas penas, resta-nos apenas penas...
Não ligo,
não ligo,
não ligo!!!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Pecar?

Espiada por olhos negros
a pele, entrelaçada como qual uma rede de pescar:
pesca corpos, pesca libido, pesca pecado.
O seio desejoso de toque,
a matéria que se retorce,
a santidade que se esvai no topor do momento
evapora...
Que será santidade, senão fantasia?
Diga-me então: pode o teu pecado ser meu?
Sem complexidades o ser humano não sobrevive,
e só de fundamentalismo um puritano gladia com um ignorante.

Deixe que esses olhos nos devorem
e na falta do que fazer, a moral
se recolha, fuja
e não mais volte bater em nossa porta!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Auto-destruição

Desbotada, faleceu nas mãos do próprio assassino.
Amarrotada,
serviu-se de lixo ao próprio amante...
Assim segue-se o ciclo,
fabricar, consumir,
trabalhar pra consumir...
Estuprando a natureza,
violando os recursos,
revertendo sangue em petróleo,
ar em fumaça,
saúde em gás...
Manchar, machucar e vender
Murchar, 'merdear' e comprar,
contínuo mantra executado,
contínua morte encaminhada...
E o caminho do exílio pertence à todos!

Humano-humano

Daquelas folhas ressequidas,
dentre cascalhos e verdes desbotados
a normalidade despiu suas vestes
e o 'des-padrão' calçou suas asas.
Dos tons de marrom nasceu a humanidade:
nem lúcidos, nem dementes,
sem asas voam,
vulneráveis, sobrevivem sem saberem andar,
nadar,
falar...
Eh, humanidade, tão demente e tão sabida
que não mais sei se o que sabes
de fato é saber.

Grito

Pintar cada pingo de chuva com a cor que se quer
é mais audacioso
que deixá-las em branco.
A solidão de cada qual
é o canto profundo de cada ser:
pisar em flores mortas
mesmo estas estando no jardim à beira da porta.
Vizinhos se aprochegam,
espiam, e mesmo curiosos
não conseguem entrar...
São segredos, flores mortas,
que não interessa a ninguém saber:
Senão eu, senão tu...

Condão

Quando escrevo, não imponho limites: Me derramo, me desvelo, A poesia então num ato de cerzir Emenda minha existência com a dela. ...