segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Sangue

Meu ventre, em raiz sangra
cada gota
fecunda o ventre da mãe primordial.
Perpassa as eras, as horas, o húmus...

O sagrado feminino,
belo,
forte
íntimo.

Jorra a seiva vermelha de volta ao seu jardim:
jardim das belezas
das delícias,
das deusas,
das poetisas...

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Livro

Carne e papel:
Melanina se mistura à textura
Teu corpo, em folhas
Abrasa minha carne literária.

Tuas carícias saltam do papel
Goteja meu gozo
Como celulose extraída
Da planta bruta que sou.

Interpreta meu prazer.
Sujeita o que sou ao orgasmo do enredo teu.

domingo, 12 de agosto de 2018

Liberdade

Quando eu estiver nua,
Não, não bata na porta.
Estarei ocupada dançando irracionalmente pela casa.

Quando eu estiver nua,
Não, não ligue o telefone.
Estarei com a taça meio cheia,
Preparada para mais um gole

Quando eu estiver nua,
Compreenda:
O sexo não é uma prisão,
Nem mesmo o corpo é...
Há crimes mais perigosos
Do que a nudez do corpo e da alma.

por isso, não me toque,
Se assim eu não quiser.
Não me ame,
Sinto muito em não querer-te...

Mas quando eu estiver nua,
Por gentileza
Contemple:
Estarei revestida da minha mais nobre roupagem,
-Prazer, ela se chama Liberdade.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

F.I.M

Meu corpo está chagado...
Ensanguentado,
Esbofeteado,
Rasgado
Em nome do amor(?).

Olhos chorosos,
Meu pranto é ignorado,
Meu pedido de socorro,
Chiiiiiiu! Não foi e não será escutado...
-Enfim, meu corpo foi executado.

Serei mais uma...
Assassinada, morta na estatística.
Feminicídio. Sangue. Suor frio.
Fim.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Mãe, eu quero ser poeta!

Mãe, eu quero ser poeta!
Quero o doce fardo de carregar água na peneira,
De se encantar pelos despropósitos a
E com palavras, peraltagens criar.

Ôh mãe, eu quero ser poeta!
Quero me graduar na ciência
Louca de desenhar versos,
E, me empregar das levezas, bobices e desencantos...

Ah, deixa-me ser poeta...
Deixa-me voar e entrar nos abismos,
Colher as palavras como quem colhe
Frutas adocicadas no quintal.

Ah, mãe...
Não me encaixo no padrão
Sou torta, pássaro selvagem, sem ninho
Mas como o do diabo, o pão,
Pelo simples ato de querer ser poeta!

terça-feira, 17 de julho de 2018

Me tens

Ser humano,
Ser mulher,
Ser poeta
Ser musa,
Ser corpo
Ser poesia:
Ser tua!

Degustar a vibração,
Sentir a energia do bem movimentar.
Dançar, celebrar, servir de inspiração e também se inspirar

Dentre tantos motivos,
Eis que a vida floresce, e sugere:
Mulher, quero ser tua!

-Eu apenas digo: Vida, vem, tu já me tens!


sábado, 14 de julho de 2018

Tatuagem

Feito tatuagem,
Quero ficar no teu corpo:
Sem desbotar,
Sem jamais sair
Nem mesmo apagar.

Quero ser livro, na pele;
Cravar a poesia, na carne;

-um corpo poesível na luz da manhã...

sábado, 7 de julho de 2018

Filhos do Riso

Olha, olha lá no céu:
O sol poente se transfigurou num enorme nariz vermelho,
Onde adulto algum consegue enxergar...

Venham, venham brincar de verdade,
Deixar saltar a criança desperta que há em nós
Observar seu lado torto,
E com ele, sorrir sem juízo algum.

Faça, faça valer a pena
O tempo que bambeia, mas não pára:
Chore, ria, oferta poesia, seja luz
Assim se quiser

Mas não tarde em descobrir-se palhaço,
Em sentir gozo nas cores bobas que a vida tem
O espetáculo maior é o aprendizado:
E ser bobo tem lá suas vantagens (ôh se tem)!

Cresçam, filhos do riso
Multipliquem-se, ergam a lona
Pintem a cara, brinquem,
Sejam sagrados: a Terra necessita do teu encantamento!
E por mais que não entendam e apenas riem da tua figura,
Embaixadores e semeadores do riso:
Jamais permitam que o vosso legado seja extinto pela frieza e dureza dos tempos que virão...

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Ardência

Banho de língua:
feito gata, me derreto entre a tua chupada.
Uivo, feito loba no cio:
de quatro, empino meu quadril.
Me contorço:
reencarno Lilith, a serpente que há em mim.
Ofegante, eu determino:
me dê mais, me dê intensidade, me enrosca, me deguste, me percorra...

Dos meus poros: o perfume afrodisíaco natural;
Da minha boca: beijos e mordidas;
Do meu corpo: flui o precioso mel;
Sou pimenta, ardência intensa, mulher a mil.

Poesível quintal

Um raio de sol passeou
pela fresta da copa
da árvore
do meu
quintal.
Pausou: o canto da ave,
a asa ligeira amarela
da borboleta,
o pacato
vento.
Coloriu e iluminou
os galhos da
pitanga
acerola
graviola
seriguela
goiabeira.

Aqueceu meu corpo,
queimou meus lábios,
colheu gotas de suor de mim.

-Um raio de sol, hoje, revelou-se mais poesível do que possível...

domingo, 1 de julho de 2018

...Estado reticente...

A lua sobe, e cá embaixo, na solidão da noite, busco encontrar algo que tem se mantido ausente,
silente...

Fito o céu noturno:
Lá fora, uma lua branca, inteira, cheia... Com poucas estrelas, a brisa tímida passeia.

Por aqui, mantenho-me calada, imóvel, apenas ouso respirar.
Sinto um vazio, perdida,
Sem ao menos saber navegar.
Os ruídos longínquos, quebram a parcimônia da noite, e através deles, revisito minhas ruínas.

Há vestígios em pó de medos, inseguranças, dúvidas, inquietações e tanto mais.

Estou viva.
Estou silente.
Estou ausente.

-Estado inexplicável de reticências.
...
.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Bacana insônia

A madrugada não me permite dormir
Um gole no vinho: direto na boca
Um disco dos Beatles, caneta e papel:
Deitada na sala, no escuro, a inquietação me convida a dançar.

*Como me sinto incrivelmente humana!

Me solto, danço levitando e acredito piamente nisso:
Esqueço da mãe integral que sou,
Da super mulher que devo ser,
Da adulta responsável que paga suas próprias contas,
Da exímia profissional,
Da feminista, ativista, politizada, revoltada...
Esqueço de tudo, e me sinto apenas MULHER!
A mulher da madrugada, sozinha se sentindo plena,
Dançando suave com a caneca de vinho, na sua sala revestida de grilos.
Amo quem sou! Amo meu corpo, minhas marcas, minhas tatuagens, meus cabelos, meus olhos: o que sou!

Esses dias de bacana insônia
Combinados com vinho e música,
Ah esses dias... Como não devemos esquecer deles!

Condão

Quando escrevo, não imponho limites: Me derramo, me desvelo, A poesia então num ato de cerzir Emenda minha existência com a dela. ...