quarta-feira, 31 de março de 2010

E do riso fez-se o pranto

Palhaço solitário, nas coxias, o panquê dá lugar ao sofrimento de um existente...
O nariz vermelho, expressivo, dá vasão à lágrimas que se deleitam e escorrem na face do escultor de milhares de sorrisos. A peruca já deixada de lado, colorida, excêntrica, expressiva, abre caminhos para o sofrimento e o remorso do indivíduo que impera sobre os picadeiros... Lona já não há mais, há apenas o trágico e cômico picadeiro da vida. De seus olhos, olhos grandes, chuva de lágrimas, pranto indefinido, solidão! Às avessas, como que vendo a vida por um retrovisor, sua boca lança palavras e escárnios à banalização da arte, à arte de viver... Enquanto uma pequena quantidade de crianças encantam-se pelo seu riso, outras milhões contentam-se duramente com a frieza das ruas, com os restos de comida nos lixões, com os perigos e as calçadas imundas ofertadas como casas, e risos, elas não mais possuem.
O palhaço vê o reflexo de suas próprias lágrimas, as lágrimas derramadas por um batalhão de pedintes, lágrimas que rogam, mesmo em silêncio, por aqueles que não tem riso, e de prantos vivem a derramar... O palhaço enquanto artista, enquanto homem, mesmo a embalar risos e gozos, jamais se esquece dos abismos sociais, dos direitos tidos como Direitos Humanos Universais, ao qual sua universalidade é banalizada e posta à prova. Mesmo em diálogo com a utopia, não exime-se a derramar suas lágrimas por quem talvez não dê espaço mais para a inocência, para as brincadeiras descontraídas, para os sonhos infantis... Mesmo sendo construtor de um universo mágico, procura sempre manter os pés, com sapatos enormes e extravagantes, firmes nesta realidade de ricos e pobres, de negros e brancos, de minorias e maiorias.
Mas o que fazer com suas lágrimas, com sua consciência, com o pesar que habita tanto em sua mente quanto em sua face? As lágrimas, a inquietude, a desconsolação retratam apenas aquilo que é absorvido por quem tem olhos e não pretendem mantê-los cerrados ou vendados... Por quem, mesmo que pequeno diante de tantos problemas, assume as dores de terceiros como fossem suas, e talvez sejam essas dores sua também... Não é misericórdia, não é pena, nem mesmo caridade fingida, mas, sumamente a matéria que compõe seu pranto é sensibilidade, altruísmo, humanismo!
O palhaço, artista popular, conhece como ninguém o peso e as injustiças geradas pelo preconceito, pelo descaso e pela prepotênica humana. Ele, assim como tantas e tantas crianças que sobrevivem nas ruas, sabe a diferença exata entre o discurso e a prática, entre as convenções impregnadas de preconceitos e os interesses políticos. Ele conhece as feridas feitas pela indiferença, elas as sente diariamente em sua pele... Assim como as crianças abandonadas nas praças, conviventes com as drogas, com a violência, ele também, assim como elas, faz-se mártir dentro de um sistema devorador.
Seu trabalho, embora belo, não é reconhecido...
Seu sorriso convertido em pranto, não é visto...
Sua arte, sua vida, seus sonhos, suas lágrimas são todos eles marginalizados....
Mas não se dá por vencido, e a cada dia, a cada novo espetáculo, lança sementes de alegria, planta e colhe esperanças, por mais que seus atos não sejam reconhecidos, sua recompensa está mantida na força de viver, na tentativa pequenina de mudar os padrões. Depois do riso vem o pranto, e depois dele, vem novamente a vontade e os desafios de reconstruir o real...
Palhaço solitário, nas coxias o panquê volta à face, a inquietação permanece no ser e o movimento contínuo do mundo escorre... e com esse movimento, a esperança e as lágrimas renascem!
"Um dia tudo isso mudará..." pensa alto o palhaço com o rosto coberto de lágrimas, lágrimas que anseiam mudanças!

segunda-feira, 29 de março de 2010

Corpos nós

(...)
o prazer em tê-lo refloresce em meu semblante
tal qual a luminosidade de uma tarde de verão.
Busco degustá-lo, devorá-lo
bebê-lo, consumi-lo...
Entro em transe com sua ereção
- me ame, me ame,
nesta intensa situação.
Há horas portanto, deixo-o ir
e em meu espaço ponho-me a refletir:
Não sou culpada, vítima ou meretriz,
sou atentada aos calorosos prazeres sutis.
Sendo outra ou não,
sou o que sou sem maior objeção...

Eu mulher, ela estrela

Lá no alto, na longíqua abóboda escura, avistei cá de baixo um brilho estonteante, dentre tantos corpos celestes, apenas ela me encantou. Tímida, mas nem por isso apagada, lançou sobre mim seu brilho, seu gozo, seu ser... Fui seduzida por uma estrela pequenina, por uma estrela que talvez nem exista mais no Universo, mas seu reflexo transcende a imensa distância de anos-luz. Aqui em baixo, deitada nessa relva úmida, deixo-me ser tocada, acariciada pela luz frívola, mas inensa dessa estrela que me atrai. O tempo entre nós não passa... O tempo é o AGORA... e enquanto nos amamos,nos enlaçamos, nos damos uma à outra: eu mulher, ela estrela, findamos a distância real que nos aparta e em instantes, entrelaçados nossos corpos, estamos eu-ardente, ela-estrela.
Não há distância...
Não há tempo...
Não há realidade...
Há somente o impossível subversimante na pele do possível!
E as tantas outras estrelas, e os tantos outros mortais, a espreitar-nos estão, arremetidos pela inveja, pela frustração de não terem corajem suficiente de se despirem assim como eu, asim como a estrela. Não, não possuem a força voluptuosa para enfrentarem os olhares curiosos, lançadores de juízos, portadores das telas convencionais. Não, não assumem seus quereres, não revelam-se como são, fazendo da vida de gozo e possibilidades uma morte de angústia e solidão.
Para nós, mulher e estrela, não é necessário relógios, regras,linguagem. Não é necessário leis, gramáticas, constituições... a nós, basta-nos apenas a vida e a liberdade, a corajem, o sonh tornado possível, a magia do agora, a sensação do toque, a realização do ato! Sem romper os grilhões, sem quebrar as máscaras, sem tirar as vendas que a sociedade e suas convenções nos põe, a estrela premanece estrela, nós tão frígidos quanto ela, não passamos de reles mortais...
"Viver o instante, degustar o agora,
é desafio exclusivo à existência de raros...
eu mulher, ela estrela,
ambas existimos na mesma atmosfera!"

sábado, 27 de março de 2010

Tributo à Lua

Eis que frígida, surge a Imperatriz noturna, esquálida, ousando-nos encantar...
Suspensa no alto, tua belez imperando, destilando elegância, com frieza persevera...
Com autonomia seduz oa reles mortais, com luminosidade rara, a embriagar-nos estais...
Tolos versos são pra ti:
tributo mórbido em palavras pétreas;
Sou cancioneira da noite
submissa à Lua bela!

SER POETISA

"ser poeta nao é uma ambição minha, é a minha maneira de estar sozinho..."
(Fernando Pessoa) MANEIRA DE SER OUVIDA,
DE OUVIR PESSOA
E DEGUSTAR BANDEIRA,
É REPOUSAR NO OLIMPO
TORNAR-SE DEUSA!

DEUSA QUE ENUNCIA PALAVRAS
QUE DOUTRINA VERSOS
CUJOS OUSAM SALTAR
DO PEITO FECUNDO MEU.

É AMBIÇÃO, É PAIXÃO
É LOUCURA E DESVARIO
É ANTES DE MAIS NADA,
TUDO O QUE O NADA ME CAUSA.

É OFÍCIO PRESUNÇOSO,
É GRACEJO SEDUTOR.
AFINAL, SER POETISA,
É A MINHA MANEIRA DE SER SÓ...

Lágrimas de Maria


Daqueles olhos corriqueiros
lágrimas fluíam como mel
em prantos,
um rosto deformava-se
e o passado voltava como fel.
Daquele rosto de boneca
o soriso ausentou,
de delírios e lembranças
a própria vida findou...
Das lágrimas o pesar,
no coração somente dor,
na imagem, o desperdício:
mais uma mulher que sofria por amor!

O que vi hoje...

Hoje vi a face brasileira que não é exposta nos outdoors, que não é mostrada nas propagandas políticas, que não é retratada nas novelas e nem mesmo nos programas da mídia. Hoje, juntamente com as nuvens, tive uma visão periférica ao qual eu nunca tinha visto antes. Hoje saí pelas ruas e resolvi desvelar o que estava velado. Hoje o mundo desconstruiu-se, ou melhor, a parte de mundo que eu conhecia desfe-se, e abriu passagem para uma outra realidade. Hoje conheci o barro... a lama. Conheci cientimente o descaso de toda uma lógica neoliberal, ao qual ousa abafar e maquiar a força e a relevância de um povo. Povo vilipendiado, martirizado, ameaçado por um exército econômico, por um governo fetichista, por um sistema excludente...
Mas não, não me admiro por ter conhecido tal face, por ter contemplado tal situação... mas porque hoje, justamente hoje, simplesmente hoje tirei meus pés do asfalto e os pus no barro. Meus pés não só pisaram no barro, como também entenderam que eu e o barro somos um, e nós, efetivamente somos POVO. Enquanto meus pés interagiam com o barro, dividindo da mesma essência, esquecendo a quentura do asfalto, o tumulto da metrópole, a guerra do consumismo...
Eu e o barro, eu POVO, vi e presenciei a fome, os subúrbios amontoados, as escolas depredadas, mas em contrapartida desses aspectos pesados, consegui, junto ao barro, ter acesso à face humana e altruísta. Esqueci-me por instantes da competitividade, da ganância e da vontade de ser maior que os outros, por que isso longe do tapete cinzento do asfalto, não tem tanta importância...
Enquanto o governo maqueia a face do povo, enquanto o neoliberalismo procura do barro instituir o asfalto, eu, com os pés no barro, hoje vi que a humanidade ainda tem remédio...
Que as crianças são a esperança, que a educação pode revolucionar, que a política deve e tem que ser execida e praticada pelo povo. Eu sou povo, e acredito em mim, POVO!
O que vi hoje é apenas uma ds diversas faces do povo brasileiro.
Pus os pés no barro e não me arrependo de hoje, ter me reconhecido como povo, capaz de solucionar grande parte dos problemas sociais a partir da minha voz rouca e baixa, mas que junto a milhares iguais à mim, a voz soaria em tom resonante, se faria ser ouvida...
O que vi hoje, nunca hei de esquecer!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ser aquilo que sou... mais nada!


O que poderia eu ser, senão aquilo em que me tornei?
O que poderia eu ser, senão aquilo que sou agora?
Como me contentar com aquilo que não faz parte de minhas escolhas e gostos?
Desperdiçar a vida a vida buscando as escolhas dos outros, desgastando o pouco tempo que me resta com a opinião e o parecer de quem não sou eu... Isso não cabe à minha vida, e talvez nunca caberia! Não conseguiria me sufocar a tal ponto, e deixar que meu oxigênio fosse composto pelo gás carbônico daqueles que permanecem a espreitar-me por pura especulação. A planta de dia fornece oxigênio e ao cair da noite, ela inverte o papel: no lugar do ar sadio, ela solta disfarçadamente gás carbônico. Não sei sobreviver segundo a fotossíntese dos outros, vivo segundo o tilintar sobressaído do meu peito.
Este modo de viver é duro e ousado, perigoso!
Incompreensível... somente eu sei quantas torturas e desafios é preciso enfrentar para ser aquilo que sou e mais nada. Fugir dos padrões e construir o que sou, o que somos, é viver exilado, marginalizado, extinto de um estilo de vida pregado pela mídia e pelo sistema devorador de autenticidade.
Digamos não à padronização humana!
Digamos sim à essência de cada sujeito!
Sejamos aquilo que somos... e mais nada!

sobre poetas, poetisas, versos e poemas...




O que seria então os poemas,
senão um jogo de paradoxos, antíteses, mimesis, metáforas...
O que seria então os poetas,
senão homens loucos, que embriagados, revelam e desconstroem a realidade escondida em palavras...
Pergunto-me então, o que seriam as poetisas
senão amzonas insanas, parteiras, maieuticamente dando vasão a seres com vida...
Sim, os poemas são seres viventes, superiores, marginais,
escondidos, revelam-se imortais!

Os poemas libertam que os dá vida,
e aprisionam quem os servem de inspiração.
Preferiria eu, conhecer antes o mistério contido em cada verso
ao alcançar a imortalidade de uma vida sem poesias...

Ah, os poemas, os versos, poetas e poetisas
que seres são estes: ambíguos, únicos, miseráveis e nobres!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sou feita de palavras...



"A palavra é o próprio homem. Somos feitos de palavras. Elas são nossa única realidade ou, pelo menos, o único testmunho da nossa realidade..."
(Octávio Paz)
As muitas palavras que trago em meu interior, ousadamente querem explodir, rasgando o meu peito, deixando à mostra as fragilidades escondidas de minha nada nobre alma. Palavras, muitas delas são feridas, outras pesadas, e umas ainda agonizantes. querem sair de qualquer forma, não respeitam minha decisão de deixá-las apenas em meu interior, afinal, elas tem vontade própria: saem quando querem,adormecem quando querem, e acabam por me matar e me geram vida, entre a loucura e o desespero...
Não é preciso que as entendam, não é necessário que as conheçam, nem eu mesma as conheço verdadeiramente! O que sei, afinal, é que elas, as palavras que vivem aqui dentro, não dependem de mim, elas apenas usufruem da minha matéria, do meu corpo, da estrutura psíquica e carnal. Apenas me faço de moradia para elas, elas sem mim sobreviveriam de alguma maneira, e será que eu sem elas sobreviveria? Não tenho respostas, tenho simplismente um vulcão adormecido de palavras que vivem na minha sombra, que gritam em meu ouvido e fazem o que querem de mim. Sou escrava das palvras que abrigo em mim... Sou ferramenta dos dialetos que residem em meu castelo interior... Sou feita de palavras que não foram criadas por mim... são na maior parte verbos, adjetivos, substantivos, advérbios de modo, de tempo, de tudo.
Sou feita de palavras... Sou um dicionário reservado, sem a linguagem metalinguística, humana, obscura, complexa! Um dia quem sabe, saberei o verdadeiro sentido dessa guerra entre SER e PALAVRA, HOMEM e DISCURSO, MULHER e ESCRITA.
Quero que elas não se desfaçam de mim, quero que continuem a me devorar, e nessa ânsia inquietante, permitir que mais uma vez eu me deixe ser abrasada, consumida e arrastada por tais palavras. E assim sigo, como um folha de papel com tantas letras embaralhadas, soltas ao vento, interpretadas de diversas maneiras, de diferentes modos, a falar ocultamente, dissipando os caminhos sombrios que me aguardam, fazendo desse conflito de palavras, o estilo de vida mais feliz e pesaroso.
Como em tantos outros momentos, agora elas se aglomeram e se agitam, desfazendo meu juízo, insistindo em sairem... umas pulam, outras correm, todas alvoroçadas e arrogantes. Não pedem licença, vão subindo goela acima, como espermatozóides buscando fecundar o óvulo, gritando bruscamente, ferindo minhas entranhas, trazendo agonia e prazer, faltam matar-me... Se um dia morrerem, morrerei junto. Não mais faria rimas, versos, nem mais seria eu poemas, nem caberia mais neste vasto mundo! Sou feita de palavras!
Sou feita de palavras que nem ao menos precisam de mim para existirem...
Sou feita de palavras que devoram e ferem, alegram e enriquecem, matam-me e fazem-me viver...
... estão entaladas, buscando libertação, maquinando contra e à favor de mim! Não sei ao certo porque fazem isso comigo, sei que me constroem e querem me destruir, querem restaurar e findar minha inútil e frágil existência, querem libertar as borboletas estampadas de sonho e fantasia, alegria e libido, que há muito tempo tenho tentado excluir de mim. Essa existência minha, assemelha-se a um oceano de palavras, onde da superfície dá-se sentir o gosto léxico de maresia que emanam. E neste longo mar, são abrigados segredos, mistérios e tesouros, onde quanto mais os revelo, mais sou arrastada para o seu interior. Continuo sendo arrastada, submergindo entre ondas de palavras, tentando sobreviver mesmo sem saber nadar.
Sou feita de palavras e estas mesmas me dominam.
Sou analfabeta de mim... Sou feita de palavras e não consigo decifrá-las.
Sou iletrada, mas isso não me extingue de ser feita de palavras!

Condão

Quando escrevo, não imponho limites: Me derramo, me desvelo, A poesia então num ato de cerzir Emenda minha existência com a dela. ...