
"A palavra é o próprio homem. Somos feitos de palavras. Elas são nossa única realidade ou, pelo menos, o único testmunho da nossa realidade..."
(Octávio Paz) 
As muitas palavras que trago em meu interior, ousadamente querem explodir, rasgando o meu peito, deixando à mostra as fragilidades escondidas de minha nada nobre alma. Palavras, muitas delas são feridas, outras pesadas, e umas ainda agonizantes. querem sair de qualquer forma, não respeitam minha decisão de deixá-las apenas em meu interior, afinal, elas tem vontade própria: saem quando querem,adormecem quando querem, e acabam por me matar e me geram vida, entre a loucura e o desespero...
Não é preciso que as entendam, não é necessário que as conheçam, nem eu mesma as conheço verdadeiramente! O que sei, afinal, é que elas, as palavras que vivem aqui dentro, não dependem de mim, elas apenas usufruem da minha matéria, do meu corpo, da  estrutura psíquica e carnal. Apenas me faço de moradia para elas, elas sem mim sobreviveriam de alguma maneira, e será que eu sem elas sobreviveria? Não tenho respostas, tenho simplismente um vulcão adormecido de palavras que vivem na minha sombra, que gritam em meu ouvido e fazem o que querem de mim. Sou escrava das palvras que abrigo em mim... Sou ferramenta dos dialetos que residem em meu castelo interior... Sou feita de palavras que não foram criadas por mim... são na maior parte verbos, adjetivos, substantivos, advérbios de modo, de tempo, de tudo.
Sou feita de palavras... Sou um dicionário reservado, sem a linguagem metalinguística, humana, obscura, complexa! Um dia quem sabe, saberei o verdadeiro sentido dessa guerra entre SER e PALAVRA, HOMEM e DISCURSO, MULHER e ESCRITA. 
Quero que elas não se desfaçam de mim, quero que continuem a me devorar, e nessa ânsia inquietante, permitir que mais uma vez eu me deixe ser abrasada, consumida e arrastada por tais palavras. E assim sigo, como um folha de papel com tantas letras embaralhadas, soltas ao vento, interpretadas de diversas maneiras, de diferentes modos, a falar ocultamente, dissipando os caminhos sombrios que me aguardam, fazendo desse conflito de palavras, o estilo de vida mais feliz e pesaroso.
Como em tantos outros momentos, agora elas se aglomeram e se agitam, desfazendo meu juízo, insistindo em sairem... umas pulam, outras correm, todas alvoroçadas e arrogantes. Não pedem licença, vão subindo goela acima, como espermatozóides buscando fecundar o óvulo, gritando bruscamente, ferindo minhas entranhas, trazendo agonia e prazer, faltam matar-me... Se um dia morrerem, morrerei junto. Não mais faria rimas, versos, nem mais seria eu poemas, nem caberia mais neste vasto mundo! Sou feita de palavras! 
Sou feita de palavras que nem ao menos precisam de mim para existirem...
Sou feita de palavras que devoram e ferem, alegram e enriquecem, matam-me e fazem-me viver...
... estão entaladas, buscando libertação, maquinando contra e à favor de mim! Não sei ao certo porque fazem isso comigo, sei que me constroem e querem me destruir, querem restaurar e findar minha inútil e frágil existência, querem libertar as borboletas estampadas de sonho e fantasia, alegria e libido, que há muito tempo tenho tentado excluir de mim. Essa existência minha, assemelha-se a um oceano de palavras, onde da superfície dá-se sentir o gosto léxico de maresia que emanam. E neste longo mar, são abrigados segredos, mistérios e tesouros, onde quanto mais os revelo, mais sou arrastada para o seu interior. Continuo sendo arrastada, submergindo entre ondas de palavras, tentando sobreviver mesmo sem saber nadar.
Sou feita de palavras e estas mesmas me dominam.
Sou analfabeta de mim... Sou feita de palavras e não consigo decifrá-las.
Sou iletrada, mas isso não me extingue de ser feita de palavras!    
 
 
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