quinta-feira, 24 de junho de 2010

Apolínea e dionisíaca

Sou apolínea quando trago a racionalidade e o equilíbrio
sou dionisíaca quando deixo minha subjetividade florescer.
Apolo está em mim quando estou diante o espelho
Dionísio no espelho cabe também.
Apolo prevalece quando prefiro dar vasão à razão,
mas Dionísio me atrai quando à emoção dou razão...
Apolínea quando estudo,
Dionisíaca quando escrevo...
Meu estar no mundo se faz completo quando integro a lucidez de Apolo à embriaguez de Dionísio!
Sou apolínea sem deixar de ser dionisíaca,
racional, objetiva, lúcida...
Sensível, subjetiva, desvairada...
Raptei Apolo e Dionísio do panteão
e os fiz habitar no Olimpo que sou eu.

Sagrado, segredo feminino revelado

Uma donzela subiu à lua
e nela pôs-se a tocar sua canção mais triste,
derramando uma chuva de pétalas melancólicas
deixando as frias estrelas mais chororsas...
Uma moça sentou-se na lua
e lá, distante dos homens
conheceu seu sagrado, seu segredo
seu lado feminino
que a História apagou...
Uma mulher se fez lua
incendiou e raiou com sua luz clara, alva
o espaço celeste, escuro, duro.
Despertou ao mundo a força de ser MULHER
a não-costela, a não-submissa,
mas a que em Lilith restaura suas forças...
Subiu, entoou cantos, compôs melodias
se fez lua,
e agora, com os pés fincados na terra,
tudo deriva dela.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Flor-Eu

Meus lábios eu não pinto de carmim,
meu colo não perfumo de jasmim,
minhas madeixas não se rendem à autoridade de um pente...
Nos meus pés não cabem saltos,
minhas unhas já vieram feitas,
e meu corpo não se rende à marcas...
Não traduzo versos em francês,
não gosto de canções em inglês,
as joias que uso são frutos da terra!
Sou flor macabra, sou margarida ressequida,
sou planta sedenta... obscura
mística, necessitada de consolo
abandonada num jardim.

Tua luz, meu refúgio

Adormeci emaranhada em teus longos fios de luz branca,
branda, paraste o mundo - silenciaste os acordes ferozes -
entoados pelo pobre instinto pós pós modernidade...
Nossas únicas testemunhas são estrelas dançarinas
ausentes de coreografia alguma.
Enquanto minhas lágrimas dilaceram minha fragilidade
teus raios sangrosos compartilham da mesma dor,
da mesma solidão,
da mesma fruição...
Estes versos que saem do nosso ritual existencial
são gritos melancólicos meus,
são sussurros indecentes teus,
são as sensações fluídas pelos meus pés úmidos
firmes nestas britas azuis de solidão.
Sou capaz de abraçar-te, de encontrar abrigo e força
num copro celeste ausente de Corpo...
Embora estejamos distantes a luz anos uma da outra
sei que neste pesar escuro
tua luz alva
tua luz cândida
tua presença-ausência
oferece teus filetes de luz fria
para eu gozar do aconchego mais perfeito,
sabendo que só neles,
nos teus braços,
sou capaz de encontro abrigo...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Se ainda (n)esta noite

Se ainda esta noite puderes contemplar o céu
e se saudoso o teu corpo querer o meu
peça às estrelas que te guiem
e te façam pousar aqui.
Se ainda nesta noite fria, pacata e mórbida
a lua não nos unir
direi na linguagem do desejo
o quanto necessito de ti.
Só tu, cavaleiro andante
apazigua meus hormônios,
acalma meu corpo e me vira a cabeça.
(...)
e se mesmo a lua lançar
sobre nós sua carícias frígidas,
seus segredos, meus desejos...
Pedirei,mesmo em pensamento
que ainda esta noite, algo conosco aconteça.

Nossa sentença

As convenções são farsas
que intimidam nossos desejos
os quais são doce como pecado
teus deliciosos beijos.
Se assim tivermos pregado
heresias contra a moral
inclusive no inferno, em chamas
nossos corpos arderão.
Sejamos portanto livres
sem mácula de culpa alguma
pois mesmo em pecado
o céu por nós será tocado...


Lágrimas escorrem pela face coberta de panquê
o rímel, o lápis, a maquilagem
desbotados, desfiguram a cultis empalidecida.
Tantos lançam juízos precipitados
às lágrimas descidas pela face,
mas nem mesmo um vivente
seria capaz de descobrir seus motivos...
o motivo sombrio das lágrimas,
o motivo mortal do pranto,
o motivo ingênuo do choro!
Dor, angústia, lástimas
mais que carregadas,
elas, as lágrimas, dizem silenciosamente
o que os olhares curiosos
almejam saber... mas não sabem.

A um amigo...

Certa noite, numa dessas conversas virtuais, pediram-me para compor um poema:
um poema que falasse dos riso saído
do papo agradável
do inglês não dito.

Pediram-me para compor uns versos
que retratasse a graça da vida,
a música preferida,
a infância perdida.

Queriam que eu transfigurasse nos versos
a singeleza da flora,
a beleza da fauna,
a conquista da alma...
o sabor do saber.

Pediram-me, suplicaram-me,
julgando ser eu poetisa
capaz de tamanha proeza...

Mas não, não conquistei ainda a sensibilidade
de reunir num único poema o singificado de um alguém tão cômico...
Pensei ser um dia borboleta azul,
de anis asas e corpo leve
levado ao vento.
De madeixas negras despenteadas,
de sonhos coloridos no peito,
de asas veladas velozes
de dança tristonha
de dogmas apagados...
Alçando voo, flanando com asas
distribuindo versos
sendo feitas de palavras,
minhas asas eram azuis
na mesma tonalidade das minhas angústias.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Eu e a natureza somos uma única coisa,
um único ser:
faço parte dela, sou ela
ela sou eu e faz parte de mim!
Simbiose íntima,
relação mais que pactual,
intrínseca à existência uma da outra,
uma que é outra, outra que é uma
e ambas são uma.
Natureza sou eu,
Eu sou natureza,
corpos unidos,
mentes em sintonia,
espíritos puros a resplandecer a mesma magia...
O sagrado feminino, a fertilidade de nosso ser,
a perspicácia intuitiva,
tudo num único ser:
faço parte dela, sou ela
ela sou eu e faz parte de mim...

Condão

Quando escrevo, não imponho limites: Me derramo, me desvelo, A poesia então num ato de cerzir Emenda minha existência com a dela. ...