sábado, 31 de julho de 2010

Sagrado ato

"Foi mistério e segredo, e muito mais...
se amar como dois animais!"
(Alceu Valença)
O ato e a potência
de sermos mais que homem e mulher,
nos fazem ser forças, bem mais que meros corpos
atraídos, enrolados, ébrios, absinto!
Dois que dançam,
dois que portam na carne
a incisão do desejo,
do prazer,
da volúpia...
Na cama, somos santos.
Na grama, pietá erótica.
Na lama, animais...
Nosso sexo é intenso e desconhecemos outra forma de nos amar!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Fim

Se um passo eu der
se um grito soltar
se um salto eu forçar
tudo poderá ter seu fim...
Se as recordações eu queimar
se na luta eu fraquejar
se o choro fluir
minha solidão irá fruir...
Se meu abrigo desabar
se nas ruínas eu permanecer
se do pó, eu renascer
aí sim, a vida enontrará seu fim....

sábado, 10 de julho de 2010

Amargas Margaridas, tudo isso é vida!

Hoje passeei por um jardim de floridas margaridas,
de flores amargas, margaridas,
de sonhos enterrados feito semente,
de adubos escuros e frios,
mas também eficientes.
Presenciei o desabrochar de uma rosa,
rosa sedenta de vida,
vi um beija-flor roubar a virgindade de uma flor,
vi uma borboleta de asas coloridas
pousando na folha que posava pra mim...
Passeei por um jardim,
vi flores, encantos, dores e desamores
reconheci quando plantei cada umas delas,
recordei o tempo em que colhi o que plantei,
mas consegui, analogamente,
identificar que tudo é vida:
cada réstia de tristeza, amargas margaridas;
cada filete de felicidade, plantio e colheita;
cada movimento da mão, da mãe, da terra...
estou cuidando do meu jardim, e espero que ele também cuide de mim!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Roubaria tuas vestes...

Roubaria as tuas vestes
para degustar de perto tua nudez,
tua alvura, tua humanidade que
tecidos pesados ousavam esconder.
Roubaria tuas vestes para sentir a quentura anulada
pelos longos tecidos...
Roubaria elas para ver-te melhor,
ver-te profundamente,
carnalmente, humanamente!
Despiria teu corpo, tua máquina, e nela reacenderia
as chamas que o tempo apagou.
Faria-o essencialmente humano, motivo de gozo,
de ardor, de luz...
Faria uma inebriante fogueria com tuas nefastas vestes,
rasgá-la-ias, para que pagassem cruelmente
o crime de terem escondido a brancura de tua pele a tanto tempo.
Diante de ti, dançaria juntamente às brasas,
mostraria-te a leveza de um corpo nu,
extinto de vestes, de pudores,
de rudez...
Faria-o dançar, levitar e corporalmente filosofar!
Resgataria tudo aquilo que outrora
tuas vestes renegara,
reeducaria teu corpo,
pintaria tua alvice com chamas inebriantes,
faria-o levitar!
Volúpias e devaneios o possuiriam
e logo fugiríamos do real, para junto às nuvens
eu, teu corpo tocar...

Tic tac


Perguntei a um transeunte:
'que horas são?'
e com naturalidade, sem espanto, sem reflexão algumas,
respondeu-me:
'são noves horas'
...
Ouvi os sinos da igreja mais próxima soarem, e
em questão de segundos julguei
ser aquele momento imortal.

Mas que horas são?
Meu relógio não marca as horas,
não há ponteiros e nem tão pouco números nele,
meu relógio não escraviza esses vestígios de tempo
na realidade, sequer sei se o tempo existe!
Meu relógio bate bem aqui,
interiormente
sem cordas alguma,
ele é extremamente carnal...
Ninguém o conhece,
ninguém pode vê-lo,
talvez seja sempre atrasado,
não corre nunca!
Mas a imortalidade de suas horas
dura somente o agora:
o agora é sempre sua hora!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Puta nostalgia...

Acordei,
pena que a cama estava realmente vazia,
nela jaziam os lençóis que outrora teu corpo perfumava,
teu espaço sempre determinado...
teu desenho que se completava ao meu!

Acordei na imensidão da cama que foi feita pra nós,
do espaço onde cabia a nossa pequenez,
a nossa extensão,
o nosso chamego,
e de repente, sem saber ao certo por quê
quis acordar sozinha!

Quis imperar pelo espaço que julguei precisar,
quis voar longe por minha liberdade
quis amar Narciso,
escolhi a mim!

Nessas manhãs então, onde teu cheiro me incomoda
onde meu corpo insiste pelo teu sexo,
corro e amo a ducha...
mas sei que eu me basto!

Assassinato


Mataram mais uma filha...
deixaram novamente a mãe triste...
escureceram ainda mais o pulmão do grande globo...
e a fumaça nos devora agora!

Mais uma árvore morreu, fora assassinada
por um filhote de trator...
por uma obra humana...
e ninguém chorou!

O ventre natural está ferido
está sendo cada vez mais vilipendiado,
e seu choro soa aos meus ouvidos
e suas dores doem em meu peito!

Até quando?
Até quando todo o verde for revertido em massa cinzenta...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Mon extase Carmélite


N'import quel jour,
num dia desses,
J'ai apporté le Carmel chez moi, sans le savoir.
levei o Carmelo pra casa, sem saber
J'ai découvert un peu de son essence.
descobri um pouco de sua essência
Il est philosophe, poète et acteur au même temps.
é filósofo, poeta e ator ao mesmo tempo
J'en ai découvert l'extase de Teresa D'Ávila
descobri nele o êxtase de Teresa D'Ávila
Digne d'un poème en français.
digno de um poema em francês
Le Carmel est d'un couleur brun, tropical
o carmelo é de cor morena, tropical
Il est fort e faible au même temps
é forte e frágil ao mesmo tempo
Plein de coubers, des coubers hallucinantes
cheio de curvas, curvas alucinantes
Supérieur aux habits et aux jeûnes
superior a hábitos e jejuns
Il est riant, culturel, audacieux
é risonho, cultural e audacioso
C'est un pur 'mamulengo'
é puro 'mamulengo'
Il a un regard grand et plein
possui um olhar grande e cheio
Plein de sentiment e poésie
cheio de sentimento e poesia
Mon Coeur aujourd'hui c'est Carmélite
meu coração hoje é carmelita
Je m'ai extasié sans sentir, en sentant
extasiei-me sem sentir, sentindo
En se sentant libre, sourriant!
sentir-se livre sorrindo!
Bernini ne le dépeindrait jamais
Bernini jamais o retrataria
Seulement Lacan verrait tant d'envie
Só Lacan veria tanto desejo
Envie d'envahir lr Camel
Desejo de invadir o Carmelo
Lui connaítr par dedans,
conhecê-lo por dentro,
N'import quel jour.
num dia desses.

(Jean de la Croix)
PS: poema presenteado a mim por um grande amigo meu...

Dura existência


"Porque o passado me traz uma lembrança
do tempo que eu era criança
e o medo era motivo de choro
desculpa pra um abraço ou um consolo..."
(Cazuza e Frejat)


Nas noites em que o escuro me sufoca,
eu o intimido e o transformo em luz...
Enquanto monstros horripilantes se abrigam em meu armário
salto da cama, e os transformo em sem teto...
E se a cuca busca me fazer de refeição,
convenço-na a ser vegetariana...
Mas enquanto mostro aos meus medos
a coragem que tenho diante deles,
meus medos mostram-me o quanto
eu consigo disfarçar muito bem.

Há quem afirma sua covardia
e há quem a esconda.
Há quem chora às claras,
e há quem derrama lágrimas somente no escuro:
mas não importa, não importa!
Em todas as pessoas cabem lágrimas e medo...

?


Uma interrogação é um gancho...

Veja!

Quando fincada na carne

dura e áspera do pensamento fere, sangra, perfura.

Mas logo refaz-se:

carne e pergunta.

domingo, 4 de julho de 2010

Os camponeses jazem cansados da labuta
da dança corpórea, revestida de força
num instante profundo
parecem descansar
com pés descalços
...
A lida na terra,
as feridas na alma
as chagas no corpo:
mas a terra acolhe e aterra
as lamúrias deles que,
sol a sol, plantam, aram e colhem...
carinhos feitos no ventre ditoso
da Terra que gira
gira, gira.

Esta noite a lua me sorriu...
em seu trono, em seu reino
fez-se acessível, me olhou,
me sorriu!

Outrora com traços firmes como Ártemis
agora iluminada e simpática como Sophia...
fez-me esquecer dos gols, das dores, do mundo
e me sorriu!

Não enxergo nada:
nem luzes, nem portas
nem homens, nem mulheres,
senão apenas vejo o riso da dela.

Deusa aberta e sensível
a mim, minha eterna musa
até quando minha eternidade durar:
ela me sorriu!

Vi seu sorriso de lânguido raios,
de brilhantes dentes,
de lábios desenhados...

Esta noite foi ela,
foi ela quem me sorriu!

sexta-feira, 2 de julho de 2010


As flautas não soam mais doces quanto outrora, o violino lança agora notas de angústia e cobrança: por que não entoastes outa canção?
O violão, a harpa, a rabeca e o pife reverteram suas musicidades
para o desprezo do poeta e da musa:
a contemporaneidade corrompeu seus versos, sua beleza, sua imagem.
Emaranhando farsa verso e música, poeta poetisa e poesia
lançam-se ao acaso e num ritmo automático a escrita se faz só.
História e historicidade são ambas história, mas não são a mesma coisa
e nem mesmo a mesma história...

O carro de som passa por entre as ruas asfaltadas
plantou um jardim de acordes no grande tapete de piche fazendo florir
a mais bela tragédia da contemporaneidade:
vejam! uma flor de cimento, pedra e pó desabrochou...
Chorosa não quis nem mesmo se portar próxima ao meio fio ou à calçada
ousou nascer e interromper o trânsito
a fazer soar o pesar das buzinas o cantar dos pneus...
Agora a pobre flor de pedra não consegue respirar a poeira de enxofre
a farinha diária, o pão amassado pelo diabo... e fermentado pelos homens!

Óh modernidade, ou pós pós modernidade, como eu a abomino!

"Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos
Tenho abundância de ser feliz por isso
Meu quintal é maior do que o mundo..."
(Manoel de Barros)



Este seio que aqui, diante de ti está desvelado
transpira vapor emana desejo...
deste mesmo seio que outrora homens nus já se deleitaram
hoje permanece intacto, virgem, nu.
De mamilos róseos, de pele morena
de fantasias realizadas e outras ainda a se realizarem,
de dóceis traços, de silhueta simples:
aqui mesmo me revelo,
me desvelo,
me dou,
sou.
"Vivo despida de preconceitos e ilusões, à luz da verdade..."
(Luz del Fuego)
Incendeia...
Ilumina...
Clareia!
A voz engasgada, os desejos enrustidos,
a falsa moral pregada
crucifica e martiriza quem ousa transgredi-la.
Incinera...
Abrasa...
Arde...
O corpo tranformado em desgraça,
intérditos por ele todo lançado.
O pequeno problema é que somos todos massa corpórea...
À fogueira aqueles que marginalizam
mas ao mesmo tempo o degustam.
Despir antes os pudores para desnudar o corpo e a mente!
Sejamos Luz e Fogo...
PS: à grande mulher vítima de perseguição por desconsiderar os pudores de seu tempo, aprendamos todos com Dora Vivacqua, condinome Luz del Fuego

Condão

Quando escrevo, não imponho limites: Me derramo, me desvelo, A poesia então num ato de cerzir Emenda minha existência com a dela. ...