sexta-feira, 2 de julho de 2010


As flautas não soam mais doces quanto outrora, o violino lança agora notas de angústia e cobrança: por que não entoastes outa canção?
O violão, a harpa, a rabeca e o pife reverteram suas musicidades
para o desprezo do poeta e da musa:
a contemporaneidade corrompeu seus versos, sua beleza, sua imagem.
Emaranhando farsa verso e música, poeta poetisa e poesia
lançam-se ao acaso e num ritmo automático a escrita se faz só.
História e historicidade são ambas história, mas não são a mesma coisa
e nem mesmo a mesma história...

O carro de som passa por entre as ruas asfaltadas
plantou um jardim de acordes no grande tapete de piche fazendo florir
a mais bela tragédia da contemporaneidade:
vejam! uma flor de cimento, pedra e pó desabrochou...
Chorosa não quis nem mesmo se portar próxima ao meio fio ou à calçada
ousou nascer e interromper o trânsito
a fazer soar o pesar das buzinas o cantar dos pneus...
Agora a pobre flor de pedra não consegue respirar a poeira de enxofre
a farinha diária, o pão amassado pelo diabo... e fermentado pelos homens!

Óh modernidade, ou pós pós modernidade, como eu a abomino!

"Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos
Tenho abundância de ser feliz por isso
Meu quintal é maior do que o mundo..."
(Manoel de Barros)



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Condão

Quando escrevo, não imponho limites: Me derramo, me desvelo, A poesia então num ato de cerzir Emenda minha existência com a dela. ...