domingo, 30 de maio de 2010

Fiz de tua negra pele, um jardim de delícias,
teu corpo perfumado, agora coberto por rubras pétalas
fora descoberto por mim,
um mortal poeta,
um simplório homem...
um reles ser,
um marginal artista!
Mas junto o teu filosofar
com a minha ignorância,
e sendo esta minha forma de pensar
não mais nobre que a sua,
unimo-nos:
arte-filosofia
masculino-feminino
rudez-nobreza
eu e você...

sábado, 29 de maio de 2010

Eu canto a tua beleza, mulher,
eu danço ao teu som,
eu viajo em tuas curvas,
eu degusto o teu belo falar.
Eu desvelo o teu corpo, mas nunca o teu pensar,
quisera eu conhecer
a essência de tua majestade,
cultuar a divindade que outrora tu foste.
És Gaia, és Mãe Terra,
Lilith, Ísis, Isthar, Inanna,
Thea, Selene...
Meu prazer é te cantar!

Elas são duas
duas moças, duas bocas, duas cavernas a perscrutar...
Duas que se encarnam,
que se provam, que se beijam, que se lambem, que se alimentam do mesmo gozo.
Ambas gemem, ambas dançam,
ambas se amam...
São protagonistas de um fulgor luxurioso,
volúpia e desejo, vejam,
estão estampados em seus rostos.

Posar-me-ei nua
para o teu pintar noturno,
para saciar a tua ânsia pura
de ver meu corpo nu.
E acabada a pintura,
vinho, vela e chamas:
é o alcool ascendendo minhas entranhas,
é a tua libido a incendiar o meu posar.
Orgulho e prazer, meu corpo eterno na pintura,
na aquarela minha nudez estática,
no teu corpo as marcas do meu,
pintei-me em ti,
pintaste tu em mim
não são mais arte morta,
mas nossos corpos pousados, eterno sentir....

Artesã


Cosendo pacatamente, atentamente,delicadamente,
linha e agulha, mãos e tecido,
todos unidos pela mesma decorosa atenção,
ao surgir da luz, ao labutar contra a escuridão,
repentinamente, num movimento não são,
a agulha perfura a carne, do dedo, o sangue em gota
como qual orvalho da dor:
a mulher é artesã da vida, cose e fura,
sangra e geme, mas nunca deixa de emanar
a doçura sua graciosamente....

DESENCANTO


Perder-se em si,

é a proposta mais atraente

que já me fiz:

andar, flutuar,

experiênciar ontologicamente o que sou.


Mas o que sou?

Quem sou?


Sou muita coisa e quase nada,

sou o desencanto batendo na porta dos olhos,

sou a desventura vagando por um corpo,

sou o Soul sem melodia rotulada,

o desencanto prostrado n'algum canto...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Regionalismo existencial


Não arredo o pé daqui,

enquanto o meu orgulho vei besta

não desencarnar...


Não dou fé dos seus erros

porque os meus eu sei muito bem

de có...


Desembestada nesse mundão de meu Deus,

eu sou deus e deus sou eu!


A zuada nos meus ouvidos,

a zanga no meu peito,

a carranca estampada na cara,

a chita da minha saia,

fazem parte de mim:

meus cambitos arrudeiam o mundo,

este mundo que eu mesma fiz...


domingo, 9 de maio de 2010

Orgia intelectual


Rasgando a madrugada cruel
eu e eus fetiches,
entre sedução e prazer, das duas às quatro
fico de quatro, deito e rolo,
e cá estão meus parceiros:
-por fim continuo a devorá-los.

São homens de grande porte, renomados,
donos de grandes riquezas
e é dessas que me valho.
Permitindo-os sair
sempre deixo-os voltar.

Quais homens são estes
capazes de levar-me à loucura,
matando-me de prazer,
gemendo de satisfação,
degusto todos de uma vez!

Me devoram
me têm,
abusam até de mim.
Corpo e mente se entregam
e imploram sem ter fim.
E a madrugada segue
presenciando tal bacanal.
Tô na cama com quatro homens:
Platão, Sócrates, Aristóteles,
a filosofia antiga que me perdoe,
mas Nietzsche também vem.

sábado, 8 de maio de 2010

Bruxas


Embaladas pela música desincroniosa...

corpos obedecem ao desritmo e dançam...

dançam, dançam,dançam!



Mentes pecaminosas

corpos levados às fogueiras:

vejam como elas queimam, queimam, queimam!



Desobedecem as regras,

ardem nas fogueiras,

ficam fixas na história, que história? ah, história!



Não são homens, são mulheres que voam,

Não são seres, são mulheres que amam,

Não são pudores, são mulheres que alto voam!



Voam, cospem no chão, rompem grilhões...

Amam, trepam, matam, vivem:

Mulheres que voam saindo e não saindo do chão...


Enquanto os santos cantam nos céus bem longínquos, aqui na terra, crianças morrem de fome.
Enquanto as igrejas e capelas são revestidas de ouro e nobreza, há quem tem como casa lona e papelão.
Quem se veste de púrpura, se pinta de carmin, de perfume de jasmim, não pode sentir a dor e o frio do corpo do outro...
do outro ausente de privilégios, ausente de humanidade, ausente de escolhas.
Abismo, paradoxo, horror:
eu e você estamos fazendo o quê?

São direitos universais humanos, universo escolhido a dedo
dedo de quem não se preocupa com a situação.

Mas enquanto dedos apontam,
mãos manipulam,
cabeças são direcionadas e
estômagos mantêm-se vazios...

E eu e você?
Faço pouco, faço nada... me acomodo!
E a desgraça perpetuada segue sobre nossa legitimação
o que nos falta é ação!

sexta-feira, 7 de maio de 2010


Eu sei que conforme a estrada se alonga, minhas pernas anseiam descansar.
De acordo com a claridade da luz,meus olhos querem cerrar.
Eu sei que a medida que meu caminho se prolonga
uma inveja insaciável brilha nos olhos de meus inimigos.
Eu sei que a minha trilha, minha música, minha filosofia
sou eu quem devo compor.
Se minha arte não agrada, se meu verso não tem rima
se meu poema perdeu a métrica, se minha piada não tem graça,
se meu espetáculo está no fim e a plateia não aplaudiu,
se você foi embora, se você me achou grossa,
se deus não me abençoou,
se meu ácido a muitos corroeu...
Não tenho do que me queixar,
por que tudo o que provoquei, todos acataram...
" I know you got more tears to share, baby
so come on, come on, come on, come on...
And cry, cry baby, cry baby
(...)"
Janis joplin, na canção Cry Baby.

Don't you know I do...


"Don't you know I do..."

Eu sei bem quem sou, mas
don't you know I do...
Não uso óculos,
embora eu precise minha visão não está tão afetada quanto a sua:
don't you know I do!

Eu não me engano,
não tenho papas na língua,
sou soberana aos meus desejos
e incapaz de acatar suas regras,
don't you know I do.

Mas não, não pense ser eu auto-suficiente
sou apenas o que me deixei tornar,
fruto de minhas próprias entranhas,
filha da natureza,
figura ao qual você é incapaz de conhecer...
Don't you know I do!
Don't you know I do!
Don't you...

A forma ao qual me pinta,
o jeito ao qual me vê,
o toque que me toca você nunca irá compreender.
Não peço que me conheça,
peço que não afirme o que você é incapaz de saber:
afinal, don't you know I do!
Don't you know I do!
Don't you know I do!
Don't you...
PS: escrita ao som de Janis Joplin.

quarta-feira, 5 de maio de 2010


"de repente ella soño que encontraba a su amado
que nadaba a su lado
de repente ella soño que sus cuerpos enlazados
se sumian abrazados en la mar..."


Na areia uma sereia, uma mulher-peixe, uma figura folclórica, mitológica...
Em seu corpo escamas, em seu peito um coração
em sua mente a lembrança tão distante do pescador que a encantou.
As ondas do mar serviam apenas de distanciamento entre a moça encantada e o amado pescador,
o mar, a praia, o mundo: dois mundos, dois seres, e um sentimento que tentou unir as diferemças, os mistérios, as encubências... eis a paixão trazida e levada pela maré.
Quem ousou pensar que tal paixão nunca existira, que um pescador encantou uma sereia, que sereias não existem?
Acima de tais figuras há a paixão... e perante ela tudo é capaz de existir na mente de quem a sentiu.

(...)
OBS: linhas escritas durante um devaneio, ao som de Maná (La Sirena)

segunda-feira, 3 de maio de 2010


Versos soltos

palavras leves

ambos pesam

desvirtuam

ascendem

a loucura presa

em meu coração.


Pernas bambas

olhos cerrados

mãos serradas...

mas quem falou que para ser poeta

fosse preciso saber escrever?


?

!

...

poesia não é nada senão a sensibilidade e a coragem se deixar transparecer

domingo, 2 de maio de 2010

Escrita automática II: palavras ao léu...

Caminhar numa estrada sem chão, dar passo no vazio e ver que toda a estrada agora se redimiu a nada, os sonhos as besteiras a inconstância e a loucura inspiradora que emana e fere como flechas lançadas n'alma dessa pobre poetisa, encorajando, amedrontando... matando e fazendo sorrir. A estrada feita de matéria que não existe, os sonhos jogados na lata do lixo, o movimento da Terra do EU do tu de tudo... Movimento abençoado e maldito, complexo e científico, subjetivo,persuasivo, movimento parado e corrido! Pontos, vírgulas, sinais, letras que não dizem nada de mais, palhaços imbecis, comedores de criancinhas, padres demônios, pastores corruptores, santos, Santos, SantoS... e minha santidade sendo refutada pelas ideias ralas e escorridas de um mundo inteiro igualzinho. A crucificação da poetisa, o seu corpo nu, chagado em labaredas na fogueira na praça. Sua-Minha cabeça na degola, pendurada, é trofeu para os ímpios, é cantiga obscura para os pobres de espírito, é a Minha-Sua cabeça degolada, esfrangalhada, agonizando coberta de sangue e poesia... infinita, imortal! Enquanto homens caminham para a calçada, Ela-Eu-Você, lamçam-se à beira da marginal movimentada, correndo cantando pulando sorrindo chorando gerundiando... sujeitos predicados previdenciários pairam num cérebro azul anil, metamorfosiado por conta da chuva ácida que em pouco tempo cairá e corroerá a hipocrisia e a caridade interessada estampada em nossas caras fingidas... quem disse? A moça bonita e pomposa da TV! Te ver, me ver, poetisa é alguém distante próxima e muito parecida comigo que estando longe está aqui... estando aqui sou eu, e não estando... está! Música caótica, arte antropofágica, mãos devoradoras de serpentes, poemas sóbrios embebedados, enxergando de espreita o genocídio assinado pelos intelectualoides de uma academia falida e prestigiada. O silêncio abarca desde a inocência ao maquiavelismo da menina órfã de escolhas... da mulher escondida na história... do homossexual enrustido por pressão... Ela-Eu-Você é a menina mas é o robô. Robô de carne e osso que 'robô' de um pote mágico a capacidade de sobreviver planejada por outros, mas sobrevive morrendo, revogando as leis já ditadas nas tábuas de Moisés, o padeiro ditador da esquina.
Sentido sentimos, mas também inventamos! Sentido é sentir a transpassar a loucura dessa linhas tortas, dessas besteiras escritas e suprimir a obra não em obra, mas em fruto de sofrimento, de quem escreve escrevendo e de quem escreve lendo, de quem lê escrevendo, de quem lê lendo... quem escreve e quem lê são pessoas mesmas... Poetisa e ouvinte, artista e ninguém, são pedras chutadas pela estrada que não tem fim, que não é redonda mas é um círculo. Que pode ser inferno bom sem fogo e sem enxofre, podendo ser céu buraco negro, costurado e perfurado à mão de um deus inexistente, mas criador, fraco, que amedronta e faz cantigas bois e homens dormirem... não a mim, a muitos, menos a mim! Redes fios cordas sistemas... interligação entre o bom e o mal, mas o que são?
São coisas e não são, mas são alguma coisa que não saberei responder. E o fim se aproxima para dar início a novo tempo, aliás, tempo esse sempre novo, pois não sei nem mesmo se o tempo existe e se existir, com certeza não é velho e assim forjo um FIM, tendo em mente um novo começo... fim que termina e começa de novo!
(...

Condão

Quando escrevo, não imponho limites: Me derramo, me desvelo, A poesia então num ato de cerzir Emenda minha existência com a dela. ...