quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Inércia

Para alguém que hoje 
inesperadamente,  me surpreendeu...

E se o vento novamente trouxer o inesperado,
e deixá-lo visível em minhas mãos,
o que faria eu?
Esperaria, deseperaria ou me afogaria?
Se o vento novamente trouxer o inesperado
e deixá-lo visível em minhas mãos
ao certo, não sei o que faria...

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

AmoVC


"Outra vez vou te cantar,  vou te gritar
e as paredes do meu quarto vão assistir comigo..."
(Cazuza)

Tuas violetas esperam
para reencontrar o doce orvalho de tua voz...
Tuas plantas, teu jardim, teu pomar,
todos eles anseiam por tua fineza, tua firmeza,
todos eles querem a ti.
Tua casa te aguarda,
teu cheiro está em cada recanto, em cada sala.
Olho para teus objetos,
e até eles imploram por tua presença.
O que faço eu nessa casa deserta
se não tenho a tua companhia?
Se tuas queixas, tuas preces,
tuas broncas e também teu firme amor
se ausentaram?
Minhas lágrimas regam tuas coisas,
e mesmo assim, junto a elas, eu imploro:
'retorna!, e traga-me logo o teu socorro...' 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Amo'ela


Um novo universo se abre
ao se abrir pra mim dois pequeninos braços,
novas percepções chegam
ao nascer sempre as descobertas de minha princesa...
Não sei ser mãe, ainda, mas tento,
incluo a cada dia em minha dieta de ser feliz
a presença significante de uma lua sempre crescente:
ela cresce no amor,
ela cresce no tamanho,
ela cresce em meus braços
e são nesses momentos que percebo, atônita
o significado de uma nova vida,
vida nova que saiu de mim,
que desde meu ventre modificou...
Ela precisa de mim, e eu ainda mais dela...
São quatro meses, e lá seguimos nós,
sigo eu a transformação de cada lua,
ela sempre me sorri,
e eu sempre "amo'ela"

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Só mais um desabafo...


Posso querer que o mundo pare,
que as lágrimas cessem,
que as palavras calem;
Posso pedir o silêncio recheado de amargura,
posso sonhar em fugir, e 
de fato, voar pra bem longe,
posso querer tudo,
posso sonhar tudo...
Só não posso fazer do meu desabafo
um motivo a mais para que o sol não nasça...
Posso desabafar, e em mais um entardecer
suplicar por forças, suplicar por amor,
mas não posso fazer com que minhas queixas parem o mundo,
o estatize...
Seguimos: eu, o mundo e meu desabafo,
só não podemos nos dar o luxo
de, em desabafos, desabar 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Satisfação em ninar


Hoje chove, hoje esfriou,
hoje no colo, menina ninou.
São olhos castanhos, mais escuros que o mel,
são olhinhos brilhantes que me levam ao céu.
Um sorriso aqui, uma lágrima acolá,
mas em todos os momentos, encantamento lá está.
Em meu colo, uma flor,
em minha vida, Lua cheia de amor.
Rebento meu, que a chuva regou,
emoção minha, em meu colo
uma linda menina, minha canção ninou...

Chove, choveu, chover...
Mas satisfação mesmo, é minha menina
em meu colo estrelas florescer. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Te abraçar: minha missão

"Raiz forte, raiz raiz...
o que nos unirá e nos fará um só povo"
(Mato Seco)
Estavas parada, solicitando minha atenção,
teu sombreiro desafiava o imenso calor,
teu tronco robusto, forte, imperante,
emanava vida, me desafiava...
O sol ardente encaminhou nosso encontro casual,
ver-te, tão linda, tão verde,
tão intensa, cheia de vida,
afim de abrigar a minha vida,
tudo me encaminhou aos teus braços,
e num laço, enlacei-me a ti...
Minha reles humanidade,
tua natureza estonteante,
união desafiadora: eu estando em ti e tu em mim.
Me enlacei, te abracei, e só assim descobri minha missão:
ser cuidadora de quem a tanto cuida de nós.


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A menina da filosofia - Parte I

Que menina é essa, que ousa quebrar as convenções, as normas e padrões sociais,
que apaixonada, transgressora, mantem romances e relações vívidas e necrófilas,
que diante do espelho, se revela e se vela, sendo o reflexo movente, já desaparece!

Quem é esta cuja arrogância sobressai,
modificando a história dos homens, das mulheres,
com pensamentos desiguais...

Nem sequer tem nome, berço ou classe social,
a vida é quem lhe guia,
problemas é o que lhe atrai!

Cabeça própria, corpo são,
faz o que lhe vem à telha,
desobedece quem lhe diz 'não'.

Não importa se é loira, ruiva ou negra,
se estuda, trabalha ou se somente sonha,
sei apenas que sua figura a muitos impressiona!

Pode parecer Pagu, parecer Artemis,
Beauvoir, Arendt, Marina,
Lóu Salomé, e muitas outras mais.

Não se abriga em livros, nem em palavras mortas,
a vida é sua cátedra leal:
constante reticências nunca ponto final!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O berço do kaos

Aqui nesta solidão cultivo apenas um querer...
Agora, neste exato instante alimento um único e mísero desejo...
Ah, esta noite 'setembrina' de intenso calor, de céu límpido,
de lua nova, de pequeninas e diversas estrelas a luzir.
Ah, esta noite em que o luar se faz tão claro, tão evidente
resgatando lembranças de um tempo bom,
trazendo a companhia querida dos amigos,
os sorrisos que foram soltos em tantas noites passadas,
ah, noite que me traz o movimento da dança,
o gole de vinho,
a filosofia em aula,
e o paraíso numa sala...
Havia naquele tempo um pequeno lugar encantado,
cujas paredes abrigavam o kaos,
era simples, o lugar, mas era um bom lugar.
Talvez não volte mais lá, talvez o 'eu' de outrora não exista,
talvez aja bastante 'talvez' ou talvez não aja mais nenhum...
Boas companhias, algumas mal encaradas,
outras cômicas demais,
e outras ainda pacientes demasiadamente.
Reviro meus papeis e neles restauro minhas esperanças,
um verso solto dá lugar a mais outro,
e recordo-me novamente o tal lugar:
talvez cafofo, talvez cafil,
-sim, este era o lugar...

domingo, 18 de setembro de 2011

As lágrimas que derramei...

Há muito que provocastes o meu pranto,
há muito que me fazes chorar,
há tempos minhas lágrimas caem, se esvaem,
e junto delas, minhas poucas esperanças.
O planeta sente as dores,
as crianças não brincam mais,
os homens não amam,
e as mulheres tornaram-se frígidas.
Há tempos que minhas lágrimas caem, se esvaem,
e sem elas, já não mais sei o que fazer.
A juventude, transviou-se,
as canções esvaziaram-se,
e os poetas já não mais existem.
O que faremos?
Que farei eu?
Certifico-me de que todo pranto derramado
mostrou-se inútil,
e ainda assim, águas saem de meus lânguidos olhos.
Hoje vejo, e reconheço,
as lágrimas que derramei não alcançam outro sujeito senão eu.

sábado, 17 de setembro de 2011

Poesia de mim mesma

Flanar pelas ruas ardentes e calorosas, pelos caminhos feitos de asfalto,
com um som que nos interpela sem dó nem piedade,
com a garganta sedenta e a alma mais sedentea ainda,
busco no calor dos trópicos, abaixo do equador,uma poesia feita de fogo,
mais ardente que os 40º advindos dos raios solares.
Busco uma poesia que seja firme,que ao me relacionar com ela,
mê dê conta que antes de poetisa,sou eu a própria rima dos versos...
A estrada a me guiar, os versos ininterruptamente a saltar,
o tilintar dos pássaros acompanhando a melodia cardíaca,
os filósofos me devorando, os poetas falecidos sussurrando
e o mundo sendo todo meu...
Busco o que construo, niilismo maldito, ceticismo inseparável,
crendo somente em meus titubeantes passos...
Busco a poesia deformada, caótica,
abençoada por Demiurgo, e idealizada por Artaud,
talvez seja ela a loucura enrustida em sanidade,
mas a busco por ser ela a fonte vital,
aquela de que preciso,
aquela por quem sobrevivo,
a tão e única poesia de mim mesma.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Eu sinto o sol

Aqui desse planalto, navegando num céu mais que límpido
sinto o sol...
Sinto a maneira como ele queima meu corpo,
me energiza, me fortalece.
Meu elemento é o fogo,
e deitada sob o sol sinto-me feliz...
a Terra gira em torno do sol,
o sol chega até nós,
e na grama seca, na umidade baixa,
aquecida,
esquecida,
sou mais uma mera mulher sob o sol...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Vida (as)Sim

Tal como pétala perdida da flor,

tal como folha ressequida em beira ao inverno,

alvo chão,

neve,

o alvo não é o chão...

Antes da queda, o voo,

antes da perda, a evolução

antes só para se auto conhecer

do que desconhecido de si, mas acompanhado...

Tal como a folha esquecida no chão

que experimentou e desvelou

o que se quis

Assim é a vida, tal e qual a vida que se tem uma só.

Sou eu só, só eu

Em papeis velhos e desbotados

faço minha existência existir,

em palavras antigas, retrógradas,

me transcrevo só.

Os papeis sou eu...

As palavras sou eu...

Sou eu só,

Sou eu somente palavras

em que leitor algum sabe decifrar;

Sou código indecifrável,

papiro perdido no tempo,

matéria orgânica para tantos erros e acertos,

por quê não?
Sou eu só...

Sou mais que imagem,

problema semiótico,

antibiótico da constância.

Sou eu só...

Só eu!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Saudosismo

E hoje, meio que repentinamente,
como algo que salta do peito de um mortal,
fui arrebatada por uma saudade,
uma saudade desfocada,
com cheiro de livro antigo
e cara de plantas secas,
com um quê de vida morta...
Ai, saudade,
aqui dentro suas traças me devoram,
sua cor me apavora
e o saudosismo de tantas coisas
isso, sim, quero que vá embora!

obs: foto de Zaira Reple

sábado, 16 de julho de 2011

Façam festa!

À minha pequenina Lua
Façam festa, façam festa,
minha princesa chegou!
O sagrado feminino, todo ser mulher
das minhas entranhas uma poesia viva tirou...
Entoem cantos, entoem cantigas,
rejubilando o novo rebento,
dou-lhe graças por eu ser cuidadora dela...
A natureza toda se manifesta,
em danças ancestrais
do meu ventre fecundado
um anjo foi arrancado
para este mundo
novo acorde entoar...


quinta-feira, 7 de julho de 2011

A um amigo...

Certa noite, numa dessas conversas virtuais, pediram-me para compor um poema:
um poema que falasse dos riso saído
do papo agradável
do inglês não dito.

Pediram-me para compor uns versos
que retratasse a graça da vida,
a música preferida,
a infância perdida.

Queriam que eu transfigurasse nos versos
a singeleza da flora,
a beleza da fauna,
a conquista da alma...
o sabor do saber.

Pediram-me, suplicaram-me,
julgando ser eu poetisa
capaz de tamanha proeza...

Mas não, não conquistei ainda a sensibilidade
de reunir num único poema o singificado de um alguém tão cômico...

Cotidiano

Dia de sol, brisa matinal,
logo cedo ingresso em mais um ônibus lotado,
caras feias (inclusive a minha),
pouco espaço, muitos corpos.

Quem era ela?


Durante esta manhã, olhava uma moça,
de cabelos negros e olhos vivos, era-me conhecida ela.
Na inquietude de seu corpo, de seu portar misterioso,
de seu colo magro e instigante, pude ver que emanava desejo e magia,
feminilidade, potencialidade... poesia.
Deixei-me levar por seus traços hostis, por seu desenho feito à grafite,
sem cuidado, tamanha rudez a envolvia, e eu olhava-na...
reconhecia-na de algum lugar, mas de onde?
A manhã foi seguindo, meio ensolarada, meio encoberta,
porém encoberta era a figura que meus olhos não ousavam desencarnar.
Aparentemente forte, a reconheci de meus sonhos utópicos,
de meu baú repleto de quinquilharias,
das recordações de minha infância já desbotada...
Quem era ela? Quê era ela?
Não sei, não sei, mas sei que seu semblante enrustido em mim está.
Talvez ela seja eu, seja o sonho meu sobre mim mesma...
Quem sabe?

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Quatro operações

Sem mais nem menos
vamos nos construindo:
somas,
subtrações,
divisões,
multiplicações...
Não sendo únicos, mas operando,
operando as quatro operações!

domingo, 12 de junho de 2011

Unidade maternal

"Somos a luz desse mundo/ Somos o sal dessa terra
Somos todos filhos da terra/ E todos somos um..."
(Chimarruts)

Esta noite tive uma visão, uma sensação esplendorosa!
Senti-me como uma semente nutrida no grande ventre,
estática, eu não passava de um rebento
e dentro, nas entranhas da Mãe Universal
quietude plena senti.
Estava sendo gerada como outrora,
alimentada pela seiva de Gaia,
tão frágil me vi,
Senti a força do ventre dela,
senti os sons,
estado elevado,
inconsciência,
não-razão,
mais que estado, fenômeno inexplicável!
A mãe primordial esta noite me re-criou,
me levou novamente ao seu ventre
e me mostrou de onde vim.

-Unidade com a mãe, seu rebento sempre serei,
a estados mais profundos, com ela experimentarei!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Minha menina

Fostes gerada em mim,
tens vida própria, és sagrada,
mistério entranhado desde o ventre,
dádiva que não pude negar,
és Lua porque és celeste,
és deusa, és forte,
nasce e renasce diariamente perante os fracos olhos humanos,
mas na verdade, tua existência é eterna...
Regada por poetas e poetisas,
sonhada por Clio,
proclamada por Calíope,
cantada por Euterpe,
embalada por Polímnia,
desenhada por Urânia,
celebrada por Terpsícore,
colhida por Tália,
narrada em sonho por Melpômene,
e concedida a mim por Erato...
És menina, minha menina Lua
adorno celeste, presente na terra dos homens.
Que tua vinda me ensine,
me alegre, me amadureça...
És minha menina, e por isso, sobre a dança das nove musas,
te chamarei Lua.

...

Que os medos enrustidos em meu corpo
não me façam perecer...
Que o íntimo chagado, ferido
mais que dores, resultem também em aprendizado...
Estas lágrimas, que não cabem nesses olhos
regue sonhos vindouros...
O que fui, fui...
O que há por vir, virá...
São momentos pessoais, asas renascendo,
crises, tristeza,
por isso não me peçam um riso falso,
uma satisfação inexistente,
ou qualquer ato que não seja verdade,
pois a intensidade da vida consiste na verdade que nós damos a ela.
- Silêncio, eis agora meu amigo

sábado, 4 de junho de 2011

Multicor

Cores me despem
cores me (re)fazem
e sendo mais que uma reles aquarela
me transporto numa atmosfera multicor:
me faço em cores imagináveis,
tons variáveis,
mas nunca, nunca me pinto de uma cor só.
Sou retalho de cores,
sou colcha de pano bordada,
sou um corpo, tenho vida,
vida esta multicor!
Cores quentes e frias,
estas são a minha mais diversa cor...
simples, multicor!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ciranda

Ao passo dessa ciranda eu vou,
eu vou dançar,
alevantando a saia, pra em sua barra não pisar...
Ao passo dessa ciranda eu vou,
eu vou cantos entoar,
elevando a prece singela, à lua bela louvar...
Ao passo dessa ciranda eu vou,
eu vou o chão pisar,
religando-me com o sagrado, aos quatro elementos minha prece elevar.
Ao som dessa ciranda eu vou,
eu vou, eu vou voar:
porque a poesia e a imaginação fazem minhas asas funcionar!
Ao som de uma ciranda eu vou...
Ao som dessa ciranda eu vou...
Vou voar!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

PoemAção

Que as minhas lágrimas reparem as tuas dores
que o meu pranto caído lave o teu sofrimento
porque se um dia te fui causa,
hoje sê efeito...
se motivo de ferida,
hoje remédio...
Tudo, mas sobretudo reparação!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

pesado voar

É como se eu não estivesse aqui em mim,
é como seu eu flutuasse, mesmo pesada!
É como se eu desconhecesse os meus,
os meus olhos pesam mais que meu corpo
mas isto não torna-se motivo que impeça meu voar...
É como se minha solidão virasse contra meu peito,
impedindo-me de respirar,
pensar, filosofar, poetisar...
Agora estou em meio a nuvens, que sempre pareceram ser de algodão,
meus pés não querem o chão,
minhas mãos não querem matéria alguma,
meu corpo não quer ser corpo,
minha mente, sempre, por aí pairará...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Eu (d)eus eu

Perdida em mim, por aí,
voltas e voltas, permaneço ali... aqui.
Eterno retorno, devir, ciclo hermenêutico... será?
Num canto, canto meus demônios,
desafio meus santos,
sou eu (d)eus.
Em meio ao verde, perco-me,
nos tons de terra, planto-me...
Quem me regará?
Me podará?
No mesmo canto que não é mais o mesmo
canto meus demônios,
que são tantos,
desafio meus santos, e,
constantemente,
sou (d)eus eu.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Nudez noturna

"Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite"
(Manuel Bandeira)

Amemo-nos na escuridão iluminada por astros e particularidades
enquanto andarilhos vagueiam pelas ruas
desbotadas de piche e fumaça,
nossa noite, nosso mundo
ambos se desnudam
a revelar mundos
contidos numa
noite
nua

segunda-feira, 7 de março de 2011

VELHA

A consciência, talvez já velha,
sente o peso da sobrevivência:
por entre seus dedos enrugados,
por sobre sua face violentada,
acima de sua cabeça um pano largado
afim de suavizar os raios ardentes e latejantes
que ousam-na ferir.
A consciência diante o que os olhos veem;
A consciência diante o que esses mesmos olhos querem ver...
Seria tudo dado ou construído?
Quem é o arquiteto dessa construção?
Quem é o manipulador desse dado?
Nada ao certo sabemos, e nossa ignorância
fingimos desconhecer.

domingo, 6 de março de 2011

blOco mEu

Blocos nas ruas, corpos juntos,
amontoando-se, acalorando-se...
Burburinhos, exaltações
solidões escondidas nos frevos,
nos sambas carências,
nos passes, segredos.
Eu aqui...
navegando num bloco solitário,
reconhecidamente só.
Numa manhã qualquer
lá fora o carnaval se realiza,
aqui, ao som de sofreguidão,
o orvalho me banha
tentando eu dizer ao silêncio
quem sou.
Sou bloco solitário,
reconhecidamente só...
Bloco do eu sozinho, como já disseram por aí!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Prece

Com a cabeça inclinada ao chão,
os pés fincados na terra,
os olhos cerrados
e a mente em constante devoção
derramo-me na mesma intensidade com que essas gotas tocam o chão.
Tempo de seca foi-se,
e entoando o cântico de agradecimento de minhas mãos
reconheço a fragilidade do ser diante a força
da mãe que nos criou...
Clamo a chama,
clamo a beleza,
clamo a Terra,
clamo ao sagrado que reside em mim...
Caia pesada chuva,
caia gota serena,
caia minha humanidade
e renasça eu sempre em mim!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

OFERTA

Natureza assim, desnuda
despida
etérea.
Força sublime,
força forte,
pura e libidinosa.
À sua descoberta,
pronta às suas ramas regar
firo-me, fertilizo-me
e em desejosa nudez
meu corpo a ti pretendo ofertar...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Vida

O que chega à mim senão luz
o que me atrai senão cores
o que me mata senão a morte...
Aquilo que me intriga,
aquilo que me devora,
aquilo que me amedronta,
aquilo que não sei o que é...
Deixar ir e voltar,
gozando do movimento, do calor
pois a vida é mesmo assim,
não se pode ficar parado
e nem mesmo correr demais!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Apena Penas

Desafiamos a física,
a crença,
os dogmas,
os 'nãos'...
Aceitando em troca dos prazeres
os olhares,
os mal juízos,
as invejas...
Pouco importa agora,
temo-nos nesse fio de instante que é eterno.
Pouco importa se atos atraem juízos
e dessas penas, resta-nos apenas penas...
Não ligo,
não ligo,
não ligo!!!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Pecar?

Espiada por olhos negros
a pele, entrelaçada como qual uma rede de pescar:
pesca corpos, pesca libido, pesca pecado.
O seio desejoso de toque,
a matéria que se retorce,
a santidade que se esvai no topor do momento
evapora...
Que será santidade, senão fantasia?
Diga-me então: pode o teu pecado ser meu?
Sem complexidades o ser humano não sobrevive,
e só de fundamentalismo um puritano gladia com um ignorante.

Deixe que esses olhos nos devorem
e na falta do que fazer, a moral
se recolha, fuja
e não mais volte bater em nossa porta!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Auto-destruição

Desbotada, faleceu nas mãos do próprio assassino.
Amarrotada,
serviu-se de lixo ao próprio amante...
Assim segue-se o ciclo,
fabricar, consumir,
trabalhar pra consumir...
Estuprando a natureza,
violando os recursos,
revertendo sangue em petróleo,
ar em fumaça,
saúde em gás...
Manchar, machucar e vender
Murchar, 'merdear' e comprar,
contínuo mantra executado,
contínua morte encaminhada...
E o caminho do exílio pertence à todos!

Humano-humano

Daquelas folhas ressequidas,
dentre cascalhos e verdes desbotados
a normalidade despiu suas vestes
e o 'des-padrão' calçou suas asas.
Dos tons de marrom nasceu a humanidade:
nem lúcidos, nem dementes,
sem asas voam,
vulneráveis, sobrevivem sem saberem andar,
nadar,
falar...
Eh, humanidade, tão demente e tão sabida
que não mais sei se o que sabes
de fato é saber.

Grito

Pintar cada pingo de chuva com a cor que se quer
é mais audacioso
que deixá-las em branco.
A solidão de cada qual
é o canto profundo de cada ser:
pisar em flores mortas
mesmo estas estando no jardim à beira da porta.
Vizinhos se aprochegam,
espiam, e mesmo curiosos
não conseguem entrar...
São segredos, flores mortas,
que não interessa a ninguém saber:
Senão eu, senão tu...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


Enquanto ele me encara, me faço fácil ao som do seu tom:
Suas palavras me interpelam,
rememoram a história do meu país,
denunciam o feminino presente no masculino,
contam-me contos,
fazem-me refletir.

Equanto ele me encara, me faço boba ao tom do seu som:
volto a ser criança,
permito apaixonar-me,
volvo em seu pseudo braço,
sonho como uma garota,
fico feliz.

Enquanto ele me encara, me faço cética
faço e refaço-me... sempre!
Mas nem sempre ao som do seu som!

domingo, 23 de janeiro de 2011

Eu e ela


Há horas que a Lua me alcança
Há horas que eu alcanço ela
E nessas horas
A solidão me desvela
.

Jogo


IMPRESSÕESIMPRESSASSOBREPRESSÕESEXPRESSASSOBPRESSÕES

Porta Cartesiana

Cães latem, grilos cantam, o mundo enfim dorme!
Não durmo, arregalo olhos e escancaro ouvidos,
cuspo palavras e sentenças ao escuro, em silêncio,
para não serem elas abortadas pelo esquecimento de uma mente sem brilhantes.
A única luz acesa invade os cômodos ausentes de luz, invade sonhos, desperta sonos...
em pesadelos constantes bato à porta de Descartes, construo e destruo o real.
...
Bato a porta
na porta
fecho a porta
me fecho à ela
mas nem sempre a abro.
O que é perceptível?
Afinal, o que é o real?
Um universo construído, regido por um único indivíduo,
solipsismo
que relaciona-se com universos e logo apartado deles
há outros sujeitos também.

Guardiã

Eis os pesos de se guardar a madrugada
de não cerrar os olhos perante as mordaças pueris do tempo
de se permitir velar o sono do mundo, das horas...
Saber que estas, as horas,
voam,
são consumadas até as últimas gotas
gotas d'água,
gotas oníricas,
gotas reais!
E o sol surge há findar minha aquarela...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Presente


Ofertaram-me o fruto da fertilidade
donde de si, fluiam raios perfumados
energias vitalícias
sabor de poesia.
Ofertaram-me a singeleza de uma flor
um rebento que não se rebentou,
e aos meus pés se deixou cair.
Logo a mim,
ser de extraordinária ignorância
de imensa deselegância,
de cantar desafinado
e versos desritmados...
Ofertaram-me algo,
logo a mim,
mente insana,
moça interiorana,
logo a mim!
Mas perante este presente íntimo
lançarei meu canto futuro ínfimo:
agradecida, lisonjeada,
eis em minhas frágeis mãos
a oferta que a natureza me ofertou.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Canção de admiração


Colos alvos despidos
entre faces,
lances,
nuances de um universo multicor
Cabelos esvoaçantes,
lábios rubros
corpos lâguidos,
olhos cerrados,
cânticos entoados.

São arcanjos,
reluzentes,
endiabrantes,
cujas formas enfeitiçam
resvalam poder,
(re)formas,
desfazem tabus:
fogem do norte, preferem o sul.

Não creio nas canções dos poetas, nos depoimentos do boêmios,
nas juras simplórias do macho imponente...
O que vejo, o que sinto, o que desejo
simplesmente perante esses colos alvos nus
são migalhas valiosas,
são cânticos interiores,
transgressores,
recordações cravadas
de quem não é musa
mas revela em seu canto sua admiração e o poderio de se ser mulher.

Condão

Quando escrevo, não imponho limites: Me derramo, me desvelo, A poesia então num ato de cerzir Emenda minha existência com a dela. ...